terça-feira, setembro 23, 2008

Texto de João Pereira Coutinho

Enviaram-me este texto, que por acaso eu até já conhcia, mas resolvi colocá-lo aqui. Está interessante apesar de eu não concordar com tudo.
Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta nãoaconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e,apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estãoinvariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornosparticularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vidadependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. Acriança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com asbarreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições depiano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores,explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro decompetição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedadesmodernas: a vida não é para ser vivida, mas construída com sucessos pessoaise profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para oinfinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho desonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forteno Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, maisqueremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera umainsatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço dehumanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiamque o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!

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