Quem me conhece bem, sabe que eu não gosto de dar nas vistas mas, vá-se lá saber porquê, muitas vezes tomei opções diferentes daquilo que é considerado «normal». Não é por mania, não é para me destacar dos outros, mas é por convicção. E às vezes, perante o preconceito e os olhares/comentários/perguntas constantes (muitas vezes desagradáveis mas outras vezes apenas de curiosidade) pergunto-me: «Mas porque tenho eu de ser assim? Não seria mais fácil ser como a maioria e fazer o que a maioria das pessoas faz?» Talvez fosse mais fácil mas estaria a trair as minhas convicções. Não sou fundamentalista. Se perceber que as minhas convicções não estão correctas ou (o mais importante), que não estão de acordo com a vontade de Deus, reconheço e prontifico-me a mudar. Mas não mudo só porque os outros acham que eu estou errada ou porque a maioria das pessoas caminha na direcção contrária.
Há várias vezes na minha vida em que tenho caminhado no sentido oposto ao da maioria das pessoas. Lembro-me de a minha mãe dizer, às vezes até com alguma irritação dada a minha teimosia em defender o que eu achava certo, que eu era a defensora das minorias, dos pobrezinhos, dos velhinhos, das criancinhas e por aí fora! É algo que já nasceu comigo. Sindroma Gabriela, «eu nasci assim, eu cresci assim, eu fui sempre assim...»!!! Mas disposta a mudar, sempre que Deus assim o quiser.
Aparentemente, até sou bastante «normal», seja lá o que for que isso signifique. Acho que a normalidade é um conceito um pouco relativo. O que é normal para mim pode não ser normal para o outro. Mas hoje, nas minhas reflexões, estava aqui a pensar no que fiz de diferente. A verdade é que também não tenho feito nada de tão extraordinário. Vejo vidas bem mais diferentes do «normal», umas que eu acho fantásticas (quem me dera ter a oportunidade e/ou coragem de as ter) e outras que eu não queria nem dadas. O que mais tem saltado à vista é o facto de estar a educar a minha filha em casa e o facto de ter colocado a minha profissão de lado (da qual até gosto muito e de vez em quando pratico, só para amigos) e me ter dedicado a 100% à família e à casa. Ah, e agora mais outra. Estou a cuidar da minha avó em casa. Há muita gente por esse mundo fora a fazer o mesmo que eu, melhor até do que eu. Mas aqui no nosso país, ainda que eu não seja a única, não é considerado normal. Não que isso me preocupe muito. Se me preocupasse, fazia o que é «normal» e já ninguém me aborrecia com comentários por vezes desagradáveis. Mas há valores bem mais altos que me preocupam. E é por causa desses valores, e dessas convicções, que eu faço o que faço. Não pretendo que todos façam o mesmo que eu, não critico quem não o faz, mas aborrece-me um pouco que as pessoas estejam tão preocupadas com a vida dos outros e por vezes tão pouco com as suas. Que a diferença possa incomodar tanto as pessoas. É por isso que por vezes digo que nasci no país errado. Não sou o tipo de pessoa que passa o tempo a falar mal de Portugal. Eu amo o meu país (sou portuguesa, embora nascida em Moçambique) e sei ver o muito que ele tem de bom. Houve um tempo em que não era assim mas graças a Deus hoje dou valor ao meu país. Mas também sei ver os seus defeitos. E esta coisa de estarmos sempre tão preocupados com o que o vizinho do lado tem e faz aborrece-me. Claro que não podemos aceitar tudo mas todos nós, crentes ou não, sabemos discernir entre o bem e o mal. Agora preocupar-me porque o outro veste de forma diferente da minha, tem aquilo que eu não tenho, toma uma opção de vida diferente da que eu tomei, isso já é demais.
Muitas vezes chego à conclusão de que perco demasiado tempo a explicar aos outros porque estou em casa ou porque faço ensino doméstico. Explico porque me perguntam e porque eu não gosto de ser desagradável com as pessoas. E porque muitas têm apenas curiosidade e eu não vejo mal em satisfazer essa curiosidade e em partilhar as minhas experiências. Mas a verdade é que não precisava de explicar tanto. A verdade é que se trata da minha vida e da minha família. São as opções que nós tomámos e ponto final. Eu também não pergunto às mulheres que trabalham fora de casa porque não dedicam mais do seu tempo aos seus maridos e filhos ou porque colocam os seus filhos em escolas que muitas vezes não as satisfazem. Aceito que são as opções que os outros fizeram, quer por convicção, quer por força das circunstâncias. Hoje quero preocupar-me mais em desempenhar as missões que Deus me confiou da melhor forma possível e menos em dar explicações.
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