Há cerca de um ano atrás, eu e o J. fizemos a opção de ensinar a nossa filha em casa. Um ano depois, continuamos a ser confrontados com muitas perguntas a respeito desta opção educativa. E sim, é disso mesmo que se trata, de uma opção educativa e não de qualquer fenómeno estranho ou capricho absurdo. Entendo que o ensino doméstico possa causar estranheza na maioria das pessoas pois é uma opção conhecida por poucos e escolhida por menos ainda.
Mas afinal, o que é o ensino doméstico? Segundo a lei portuguesa, é «aquele que é leccionado, no domicílio do aluno, por um familiar ou por pessoa que com ele habite».
A primeira vez que ouvi falar em «homeschooling» foi através de sites e de blogues estrangeiros que comecei a visitar assiduamente pouco depois do nascimento da minha filha. Comecei então a interessar-me pelo assunto, comprei livros para me informar melhor e troquei impressões com outras pessoas através desses mesmos blogues. Mas, por pura ignorância, e como acontece com a maioria das pessoas, estava convencida de que esta opção não era permitida no nosso país. Permaneci ignorante durante algum tempo até que um dia recorri ao meu precioso Google, escrevi «homeschooling Portugal», e descobri um fórum sobre ensino doméstico, descobri pessoas interessadas no assunto e pessoas que praticavam o ED em Portugal, opção que afinal existe na nossa lei.
Nessa altura o meu entusiasmo aumentou e comecei a considerar esta hipótese para a nossa filha. A princípio, o J. estranhou a ideia mas, depois de se informar melhor, aderiu completamente. E tomámos a decisão em conjunto e depois de termos orado para que Deus nos desse uma direcção.
São várias as razões que podem levar uma família a optar pelo ensino doméstico. Mas o que eu considero realmente importante é que haja a possibilidade de se optar pelo ensino doméstico. E aborrece-me que muitas pessoas sejam prontas a atacar e a criticar: «estás a fazer mal à tua filha», «estás a protegê-la demasiado», «não vai desenvolver competências sociais», «vai sentir-se isolada», «tem de saber como é o mundo e aprender a defender-se», etc., etc. Eu aceito que nem toda a gente pense como eu, aceito até conversar sobre o assunto pois é a conversar que nos entendemos. Mas acho que as famílias que optam por este regime de ensino devem ser respeitadas como qualquer outra família. Também vejo nas outras famílias muitas coisas com as quais não concordo, que não quero para a minha vida, mas respeito.
Pessoalmente, acredito naquilo que a Bíblia diz, que os filhos pertencem a Deus e que Deus delega nos pais a responsabilidade e a autoridade para criar e educar os filhos. Os pais podem delegar a sua autoridade para criar e ensinar os filhos noutras pessoas ou instituições, mas nunca poderão delegar a sua responsabilidade. Deus irá sempre responsabilizar os pais pela educação que os filhos recebem. É por isso que os pais devem escolher bem as pessoas que irão ensinar os seus filhos. No entanto, acredito que a melhor forma de assumirmos esta responsabilidade é sermos nós próprios a ensinar os nossos filhos. E acredito que, embora os conhecimentos académicos sejam importantes, o mais importante é buscarmos primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras coisas nos serão acrescentadas (Mateus 6:25-34).
Mas mesmo quem não acredita em Deus encontra vantagens no ensino doméstico. Uma delas é o facto de ser possível fazer um ensino mais personalizado, adaptado às necessidades de cada criança. Sabemos que todas as crianças são diferentes e que não aprendem todas da mesma forma e ao mesmo ritmo. Há também a vantagem de não ser necessário passar demasiadas horas na escola. As crianças passam muito tempo na escola e mais de metade desse tempo não é necessário e é mal aproveitado. Em casa, não é preciso estar tanto tempo sentado a uma secretaria, há mais tempo para brincar e para outras actividades que não estão limitadas pelos horários das escolas. Depois há a questão da segurança, que tanto preocupa os pais nos dias que correm. É evidente que não conseguimos proteger os nossos filhos de todos os perigos, mesmo tendo-os em casa junto de nós. Mas também sabemos que as escolas estão cheias de violência, de álcool, de drogas, de promiscuidade. E não me venham com a história de «temos de mandar os nossos filhos para a escola para se defenderem». Eu pergunto então a quem tem o privilégio de não viver num bairro da lata se não se quer mudar para um desses sítios para saber como é o mundo e aprender a defender-se. Se queremos o melhor para nós, certamente também queremos o melhor para os nossos filhos.
E já que me perguntam sempre pela socialização, o problema que preocupa tanta gente, eu respondo: não estou preocupada com a socialização. Creio que é um falso problema. A socialização não tem de ser feita exclusivamente na escola. Ela pode ser feita de várias formas e acredito que, fora da escola, é muito mais rica pois as crianças contactam diariamente com situações diversas e com pessoas de várias idades.
E para finalizar, que já vai longo este texto, estou a fazer o melhor para a minha filha? É evidente que acredito que sim pois caso contrário não o faria. E essa confiança vem de Deus e da Sua Palavra. Mas também sei que o futuro dela não está nas nossas mãos. Fazemos o melhor que sabemos e podemos, sempre confiando que Deus está a guardá-la.
2 comentários:
Olá Lara sou a mãe da Leonor e do André (Pés na Relva)... Achei curioso ler este teu post numa altura em que as pessoas começam a questionar o facto da Leonor ainda não estar na "escolinha" (ainda só tem 4 anos).
beijo grande
Uau! Muito interessante! Tenho uma menina de 7 meses e tenho andado a pensar no ensino doméstico. Sou ex-professora e sei bem no que se tornou a nossa escola pública. Concordo em absoluto com o que escreveste e tanto eu como o meu marido andamos a pensar seriamente no Ensino Doméstico. :)
Beijinhos*
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