Era então imperador Maximiano, que nomeou Constâncio corregente, abrindo-lhe a sucessão no Império, com a condição, porém, que repudiasse a sua mulher e desposasse Teodora. A cega ambição de Constâncio fê-lo separar-se de Helena, levando o pequeno Constantino para Roma. Durante 14 anos, Helena chorou as desventuras de um amor rejeitado, até que, em 306, Constâncio falecera, tendo Constantino sido nomeado imperador. De imediato, mandou chamar sua mãe à corte, conferindo-lhe o nome de Augusta e imperatriz.
Purificada pelo sofrimento, Helena recebeu o batismo, talvez em 307. Com idade avançada, visitou em peregrinação os lugares santos e, na subida ao monte Golgota, onde se havia construído um templo a Vénus, mandou derrubá-lo, para aí procurar a cruz onde Jesus morrera, tendo sido encontradas três. Mas qual das cruzes seria a de Jesus? Diz-nos a lenda que Helena ordenou que trouxessem perante si um defunto sobre o qual foram colocando cada uma das cruzes, e que, ao tocar em uma delas, o defunto recuperou a vida. Estava identificada a cruz de Jesus! Por esta razão, a imperatriz Helena foi canonizada e venera-se como Santa Helena da Cruz (ou Santa Cruz).
A devoção a Santa Cruz foi-se construindo entre os séculos III e VII, estendendo-se a todo o mundo cristão. Ao termo de Torres Vedras, o culto chegaria alguns séculos mais tarde, talvez na centúria de Quatrocentos, erguendo-se no litoral, em Ribamar, uma ermida, de invocação a Santa Helena da Cruz ou Santa Cruz de Ribamar, como assim se designava o local, um lugar ermo com a azenha em baixo, em 1517. O nome do lugar deve-se à então ermida, erguida, provavelmente ainda no século XV pelo convento de Santa Maria de Penafirme, defronte do sítio da atual capela de Santa Helena (em Santa Cruz), de invocação à Santa, que no século XVIII se desmoronaria no mar. Da primitiva ermida, resta hoje uma imagem da Santa Helena, muito venerada pelos Eremitas de Santo Agostinho, cujas preocupações se identificavam com as de Helena quando esta permanecia na Palestina, no fim da sua vida, servindo a Deus, na oração e na caridade, cuidando dos doentes e alimentando os pobres. Funções espirituais, mas também de assistência, porque ambos os caminhos são possíveis, mesmo quando ali, tão perto, o mar desafia os céus com as suas preces…"
Carlos Guardado da Silva
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